Os profissionais que se dedicam aos aplicativos já fazem parte das nossas vidas. Em dias chuvosos, quentes, durante a noite ou madrugadas, eles seguem conosco em diferentes serviços, com destaque para aqueles de entregas e transporte. A jornada longa e a falta de condições mais justas de trabalho, contudo, ainda é uma grande realidade da profissão.
E conhecer essa realidade é muito importante para que a sociedade também discuta melhorias para essa categoria de trabalhadores. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que é realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, divulgada em meados de outubro de 2025, trouxe uma série de dados que veremos hoje, juntos.
Jornada longa e renda maior
Pode ser que alguém brinque com quem trabalha em aplicativos: “poxa, você trabalha muito, hein? Deve estar fazendo dinheiro…”. E essa frase tem sim uma verdade: o trabalho excessivo, em jornada longa, para fazer o dinheiro realmente acontecer. Ou seja, para estar nessa profissão e conseguir um bom “salário”, é preciso trabalhar muito.
Os dados da Pnad mostram que os trabalhadores que se dedicam a aplicativos – e que são chamados pelo IBGE de plataformizados – tiveram uma jornada de 44,8 horas semanais em 2024. Enquanto isso, aqueles que não estavam em plataformas no mesmo ano, trabalharam em média 39,3 horas, o que demonstra a jornada longa dessa primeira categoria.
O salário é realmente maior?
A conclusão do IBGE desmistifica esse assunto. O que ocorre, na prática, é que profissionais que atuam em plataformas precisam passar mais horas trabalhando para ultrapassar os ganhos dos não plataformizados.
Considerando esse importante ponto de partida que considera a jornada longa de quem trabalha em app, os dados dizem o seguinte: esses trabalhadores receberam, naquele ano, cerca de R$ 15,40 por hora, um valor 8,3% menor do que os não plataformizados, que recebiam R$ 16,80 por hora.
O que ocorre para que os trabalhadores por apps ganhem mais é que eles se dedicam mais tempo para conseguir fazer uma graninha a mais. Naquele mesmo ano considerado pela pesquisa (2024), o rendimento médio mensal dos plataformizados era de R$ 2.966,00.
Já para aqueles profissionais que não trabalham em plataformas, o valor era de R$ 2.875,00, salário 4,2% menor que os trabalhadores por apps. Mas atenção ao analisar o dado separadamente, pois ele só faz sentido se consideramos a jornada longa que os plataformizados enfrentam para receber um pouco mais.
Como a pesquisa foi feita?
Para você entender melhor quais profissionais foram entrevistados nesse levantamento que aponta a jornada longa dos plataformizados, saiba que o IBGE identificou 1,7 milhão de trabalhadores – a partir de 14 anos de idade.
Essas pessoas afirmaram que prestam serviços nos seguintes aplicativos: táxi; transporte particular de passageiros; entrega de alimentos e produtos; prestação de serviços gerais ou profissionais como designers, tradutores e médicos que operam por telemedicina.
Aplicativos e profissionais têm vínculo trabalhista?
Uma das principais preocupações com essa atividade é que muitos profissionais que enfrentam a jornada longa não têm vínculo com os aplicativos. Essa realidade é ruim por alguns motivos, mas os principais são os riscos de precarização do trabalho, com condições menos dignas para o trabalhador, e a falta de amparo.
Exemplo disso é que muitos profissionais não contribuem com a previdência e por isso podem ter mais questões críticas relacionadas à aposentadoria – e isso vale até mesmo para falta de cobertura em acidentes de trabalho.
Em novembro de 2025, a expectativa é que o Supremo Tribunal Federal (STF) discuta se essas empresas de tecnologia responsáveis pelos aplicativos devem ou não configurar vínculos com os profissionais que fazem essas plataformas funcionar. Esses desdobramentos nós contamos em breve no nosso Clube U!